Simplificar e rever processos de decisão foram algumas das sugestões apresentadas às Misericórdias no seminário sobre inovação social.

Simplificar procedimentos, ampliar participação e rever processos de decisão numa lógica de parceria foram algumas das sugestões apresentadas às Misericórdias, no seminário que encerrou o Laboratório de Ideias dedicado à inovação social. Promovida pela União das Misericórdias, em colaboração com a Universidade da Beira Interior e Santas Casas da Covilhã e Vila de Rei, esta iniciativa reuniu técnicos e dirigentes de 29 instituições, no dia 14 de maio em Fátima.

“Quando falamos em inovação caímos na tentação de pensar em algo grandioso, mas a inovação não implica criar respostas sociais novas. Há que inovar em tudo o que já fazemos, ajustarmo-nos para dar resposta à população e fazê-lo com a participação de todos os agentes. As Misericórdias são o melhor exemplo de inovação, caso contrário não estaríamos aqui”, resumiu a vogal do Secretariado Nacional da UMP, Carla Pereira, no final do debate.

Congregando a experiência das Misericórdias no terreno e o conhecimento das universidades, o grupo de trabalho coordenado pela UMP apresentou instrumentos e metodologias que privilegiam o envolvimento ativo dos colaboradores e outros agentes locais na resolução de problemas e a melhoria de procedimentos internos e serviços prestados pelas instituições.

Na opinião do sociólogo e investigador da Universidade da Beira Interior, Alcides Monteiro, “as características que conferem novidade [à inovação social] não decorrem da invenção de novos bens ou serviços, mas da melhoria de procedimentos, introduzindo-lhe novas dimensões: instrumentos de planificação, gestão estratégica, ganhos de escala, procedimentos de monitorização e de avaliação, medição da utilidade social e do impacto social”.

Na prática, isso pode traduzir-se em pequenas mudanças, consoante as necessidades identificadas pela instituição. A promoção de fóruns participativos, por categoria profissional, ou a dinamização de reuniões em torno de problemas definidos pelas equipas são apenas alguns exemplos de instrumentos que permitem melhorar processos e gerar novos projetos. 

Em Vila de Rei, dois utentes de lar testaram uma das ferramentas disponibilizadas – visita de experiência – através de um intercâmbio entre o Centro Geriátrico Nossa Senhora da Esperança e o Lar de Santo António. Munidos de uma grelha de avaliação, os idosos recolheram informação sobre os serviços prestados durante um período de 24 horas. Na opinião da diretora técnica do centro geriátrico, Rita Almeida, este instrumento “de aplicação muito simples” permitiu “motivar os atores envolvidos” com vista à “otimização dos serviços”. 

Outra das Santas Casas integradas no grupo de trabalho, Covilhã, testou ferramentas de monitorização, criação e avaliação de projetos com um grupo de ajudantes de lar e de educadoras de infância. No primeiro caso, as colaboradoras foram convidadas a identificar as competências associadas à sua função e valores transversais da instituição e no segundo caso foram desafiadas a identificar um problema e sistematizar ações para a sua resolução.

Para o provedor António Neto Freire, este tipo de “metodologias participativas que potenciam o envolvimento dos trabalhadores na resolução de problemas” resulta num maior “comprometimento com a instituição e tem resultados ao nível da eficiência e qualidade dos serviços”. A responsável pelo departamento de inovação, Ana Almeida, corrobora: “melhora a gestão das equipas, aumenta o sentimento de pertença e a proximidade à hierarquia de topo”.

Investir na cooperação alargada com vários agentes, seja beneficiários e colaboradores, por um lado, seja poderes autárquicos e organizações da sociedade civil, por outro, vai permitir reforçar, na opinião do investigador Alcides Monteiro, a capacidade de intervenção das instituições na “identificação das necessidades e desenho de soluções para a sua satisfação”. Esta “fórmula de cooperação” é determinante para que as “Misericórdias vejam reafirmado o seu papel de agentes da transformação social”. 

O quarto seminário do “Laboratório de Ideias”, subordinado ao tema “Liderança e Gestão numa Misericórdia: Inovar para responder”, foi promovido pelo Gabinete de Ação Social da UMP, no âmbito de um projeto de capacitação institucional financiado pelo POISE.

Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas