José da Silva Peneda, presidente da mesa da Assembleia Geral da UMP, soma cargos de relevo na política nacional e europeia. Foi ministro do Emprego e da Segurança Social, secretário de Estado, na área da administração regional em três governos, e deputado do PSD à Assembleia da República. Esteve em Bruxelas, como eurodeputado de 2004 a 2009, presidiu, durante seis anos, ao Conselho Económico e Social, e em 2015 deixou o cargo para se tornar no principal conselheiro do presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker. Fomos conhecer o homem por trás do currículo brilhante e das condecorações (Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e Grande Oficial da Ordem de Mérito do Luxemburgo), as causas que o movem na esfera pública e privada e a herança familiar (duas filhas e quatro netos) que construiu ao longo de sete décadas de vida.

Silva Peneda nasceu em 1950, em São Mamede de Infesta, concelho de Matosinhos. O mundo era então aquilo que os olhos abarcavam: uma “aldeia, muito verde, onde os jovens andavam na rua com os amigos e jogavam futebol com os colegas de escola”.

Nos tempos de liceu, as brincadeiras de rua são substituídas pelas obrigações de estudante. Frequentava então um liceu masculino no Porto. “Foi uma fase com mais disciplina. Tinha um tio que era vice-reitor e estava casado com a minha professora de francês. Por isso estava duplamente controlado, em casa e na escola”, brinca.

A paixão pelo desporto, em particular pelo voleibol, surge na juventude e acompanha-o até à vida profissional. Nessa altura, os dias eram repartidos entre a Universidade do Porto e os treinos. “Parece que era habilidoso e o Futebol Clube do Porto veio ter comigo”, recorda.

Um acaso ditou a carreira na política e economia. “Fui para economia por exclusão de partes, era a única alínea de ciências sem desenho e eu era horrível a desenho. Só depois percebi o que era isso”, comenta divertido.

Embora não se considerasse um aluno de excelência – porque o “desporto absorvia muito” – a sua preparação académica fez-se notar no Institute of Social Studies, na Holanda, onde concluiu uma pós-graduação em Administração do Desenvolvimento. “Percebi que tínhamos uma formação base em matemática muito boa e que estávamos muito acima da média quando comparados com os estudantes de outros países”.

O que mais destacou dessa primeira experiência internacional foi o “contacto com uma dimensão do mundo que não se aprende nos livros”. Esta vivência diária permitia uma troca de ideias e diálogo permanente com economistas de referência, como Jan Tinbergen (Prémio Nobel em 1969) e alunos de todos os cantos do mundo.

Aos 28 anos, inicia a carreira política como secretário de Estado da Administração Regional e Local, no governo de Maria de Lurdes Pintassilgo (1979-1980), dando continuidade às funções nos governos de Francisco Sá Carneiro (1980-1981) e Aníbal Cavaco Silva (1985-1987).

Em 1987, assume uma “pasta difícil” - Emprego e Segurança Social – num período marcado por confrontação e ameaças, mas recorda as conquistas alcançadas. “Houve um enorme incremento na Segurança Social, criou-se o 14º mês para os pensionistas e fizeram-se coisas muito positivas para o país”.

Na altura, tinha uma “vida de emigrante”, entre Lisboa e o Porto, onde residia a família. “Foi assim durante dez anos”, recorda. Por isso, quando deixou a pasta, em 1993, a mulher disse-lhe, em tom de brincadeira, “para trabalhar no raio de um quilómetro de casa”.

Em 2004, essa distância voltou a aumentar para abraçar um novo desafio no Parlamento Europeu, como eurodeputado do PSD, ligado aos assuntos sociais, destacando como principais legados os relatórios sobre o modelo social europeu e a gestão do tempo de trabalho.

Mais tarde, a experiência na concertação social, como presidente do Conselho Económico e Social (2009-2015), traduz-se numa lição valiosa: “Os problemas hoje são tao complexos e difíceis de gerir, que uma única entidade, com mais poder que tenha, nunca o poderá resolver. Portanto, só através de plataformas de compromisso conseguimos avançar”.

Nos bastidores desta intensa vida profissional ao serviço do país, guiada por valores como a “honestidade” e a “justiça”, Silva Peneda tem um clã familiar unido e coeso, que se reúne todos os domingos. “Se não estamos juntos, estamos a conversar”, acrescenta Fernanda, companheira de uma vida, com quem celebra este ano bodas de ouro.

Mesa da
assembleia
desde 2016

Enquanto presidente da Mesa da Assembleia Geral da União das Misericórdias Portuguesas, José Silva Peneda “não tem responsabilidades em termos de gestão quotidiana”, mas admite que “faz o que pode do ponto de vista doutrinário, em termos de intervenções escritas e participações em congressos e outras atividades das Misericórdias”.

Princípios
que guiam
uma vida

“Procurei sempre não enganar ninguém e não defraudar expetativas”, revela José da Silva Peneda, no decorrer da conversa, referindo-se aos princípios que têm orientado a sua ação na esfera pública e privada. No seu percurso, procurou manter-se fiel a valores como a justiça e honestidade, mesmo que isso implicasse a alguma confrontação. “A justiça obriga por vezes a uma luta interior, mas quando é bem-feita dá paz interior”.

Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas