Uma voz que consegue manter a identidade e é respeitada por todos os que a leem e pelos que nela publicitam

Manuel de Lemos, Presidente do Secretariado Nacional da UMP

Celebrar 35 anos de vida ininterrupta de um órgão de comunicação social oriundo de uma associação como a União das Misericórdias Portuguesas deve ser, antes de tudo, um momento que Marguerite Yourcenar classificaria como “dar audiência às nossas recordações”. Na verdade, não se podem celebrar 35 anos sem recordar os fundadores.

Em primeiro lugar, esse grande visionário que foi Virgílio Lopes, que percebeu a importância da comunicação num tempo em que não havia, mails, iphones, canais variados de TV, whatsapp, twitter, podcasts etc. e em que o papel escrito dava para ler e reler e pensar (e mastigar!).

Para desenvolver a ideia, Virgílio Lopes encontrou o homem providencial na personalidade única do Dr. Manuel Ferreira da Silva, personagem maior da inteligência e da cultura portuguesa do século XX, profundo conhecedor da história, da natureza e da identidade das Misericórdias.

A marca de Ferreira da Silva, sobretudo alimentada e protegida por Vítor Melícias, continuou, naturalmente, com fulgores diversos, quer com Leal Freire, quer com Mário de Azevedo, que sempre foram acrescentando valor à nossa Voz. Mas sempre que necessário, Ferreira da Silva regressava para reorientar o caminho, apontar as metas, salvaguardar o legado.

Quando iniciei funções na UMP tive ainda o privilégio de poder privar com Ferreira da Silva, que muito me ensinou e honrou ao solicitar-me colaboração para, pelo menos, um dos seus livros. Quando assumi a presidência, consciente da sua idade, indicou-me o Mariano Cabaço para seu sucessor, assegurando que continuaria “por ali enquanto tivesse forças”, o que fez dedicadamente mesmo até ao fim.

Mariano Cabaço primeiro e Paulo Moreira depois fizeram do Voz das Misericórdias o que ele é hoje. Uma Voz que resiste ao tempo, uma Voz agradável de ler, uma Voz moderna, quer no grafismo, quer no conteúdo que consegue manter a identidade e é respeitada por todos os que a leem e pelos que nela publicitam. Uma Voz que passa as mensagens das Misericórdias e que as defende, sem culto de personalidades, mas onde têm tido voz muitas das maiores personalidades portuguesas que, de uma forma ou de outra, interagem com as Misericórdias e com o nosso movimento.

Mas se a direção é importante, não quero deixar de manifestar o meu apreço muito veemente pelos profissionais que fazem o Voz, destacando entre todos naturalmente a Bethania Pagin (a brasileira mais portuguesa que eu conheço, desde a “rabugice” à perseverança, ao entusiasmo e à lealdade) que há mais de uma década dá “o litro” para que o Voz saia a tempo e horas e que seja cada vez mais interessante, apelativo e sedutor.

Comunicar com sucesso no mundo de hoje é cada vez mais difícil, sobretudo no modelo de “papel impresso” e nestes últimos anos temos assistido ao desaparecimento de muitos órgãos de informação. Mas o Voz tem resistido com sucesso, porque tem sido capaz de agregar novas formas de comunicar: o site, as newsletters, as redes sociais e a filha mais nova, a UMPtv.

Comunicar hoje, para uma organização como a UMP, é uma forma de dar conhecer o que se faz, de afirmar os seus valores, de promover a salvaguarda das suas associadas. Mas também e sobretudo um instrumento de política, para afirmar e reafirmar o nosso papel na sociedade, o que queremos e sabemos fazer bem, a inovação que percorremos quotidianamente sempre em nome dos que precisam, da nossa sustentabilidade, e do nosso futuro coletivo.

É para isso que o VOZ DAS MISERICÓRDIAS trabalha e contribui em cada um dos 374 números já publicados. Para um Portugal mais justo, mais inclusivo e onde valha a pena viver. Por isso, na minha qualidade de Presidente da UMP, levanto um copo virtual para uma saudação na forma mais portuguesa que conheço: “Parabéns, longa vida e bem-haja!”.