A pandemia de Covid-19 colocou em evidência diversas fragilidades do apoio aos idosos em Portugal, mas para o presidente da UMP, a matéria não é da exclusiva responsabilidade da UMP ou da CNIS. Refletir sobre o envelhecimento é um “dever de todos, um desígnio nacional”, disse Manuel de Lemos, durante uma audição conjunta a 4 de fevereiro, por videoconferência, da comissão parlamentar para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à Covid-19 e do processo de recuperação económica e social.

Durante a audição, onde também o presidente da CNIS foi ouvido pelos deputados, Manuel de Lemos chamou a atenção para o subfinanciamento das respostas sociais destinadas aos idosos, destacando que, no quadro da pandemia, “se não fosse a cooperação com o governo, a situação seria catastrófica em Portugal”.

“Através dessa cooperação tem sido possível manter os idosos em lar razoavelmente protegidos. É preciso ter presente que os óbitos em lares em Portugal representam 28% do total dos óbitos no nosso país. É evidente que esses números não nos satisfazem porque quem morre nos nossos lares são pessoas que conhecemos e os números são muito frios, perdem esse sentido”, afirmou o presidente da UMP, destacando que depois de Portugal surge a Alemanha, com uma taxa de óbitos em lar na ordem dos 43%.

Reconhecendo que todas as medidas do governo para apoiar o setor solidário são “bem-vindas”, Manuel de Lemos recordou que são medidas transitórias. O que seria importante, continuou, seria uma reflexão conjunta com a sociedade portuguesa sobre um novo modelo de apoio à terceira idade. A maior parte dos lares está concebida para outra realidade, em termos de espaço e recursos humanos. O perfil dos idosos tem vindo a mudar e as políticas públicas devem ser capazes de acompanhar essas mudanças, defendeu.

A pandemia, continuou o presidente da UMP, “evidenciou a nossa preocupação, mas também criou um novo mundo, com despesas que não tínhamos e que agora vão ser contínuas”, como por exemplo equipamentos de proteção individual e recursos humanos. “É fundamental termos médico, psicólogo, nutricionistas e mais enfermeiros, mas essa matéria não é da exclusiva responsabilidade da UMP ou da CNIS. Se queremos mesmo ter uma política pública de envelhecimento, o Estado tem de ser capaz de nos ajudar no financiamento”, disse Manuel de Lemos, reconhecendo ainda, à semelhança do presidente da CNIS, que os trabalhadores do setor solidário são mal pagos.

Citando um estudo da Universidade Católica, o presidente da UMP lembrou que em 2018 o financiamento público das respostas sociais rondava os 38%. Em 2021, “com tantas despesas relacionadas com a pandemia, esse valor deve rondar os 30% ou menos”. A este propósito, Manuel de Lemos disse que, para fazer face às despesas de funcionamento, as instituições vêem-se obrigadas a pedir maiores comparticipações às famílias, razão pela qual muitos portugueses acabam por escolher lares ilegais.

O tema da vacinação foi igualmente abordado durante esta audição. Tanto Manuel de Lemos como Lino Maia garantiram que o processo, no geral, correu bem e que a maior parte dos lares já recebeu a segunda dose da vacina, sem registos de reações adversas que justifiquem preocupação.

A propósito da vacinação indevida, o presidente da UMP leu aos deputados um email oriundo de uma entidade pública dependente do Ministério da Saúde e com orientações claras para as instituições identificarem os dirigentes e profissionais a vacinar. "É um longo email, mas penso que resolve muitas das questões e revela que isto é um não assunto", disse Manuel de Lemos.

Admitindo que os abusos são inaceitáveis e “põem em causa o bom nome de toda a gente”, o presidente da UMP apelou à calma. “Estamos a falar de portugueses que tratam de portugueses e essa palavra de tranquilização seria muito importante para cumprirmos um objetivo que todos temos que é salvar o maior número de vidas possível”, disse, subscrevendo palavras anteriormente proferidas por Lino Maia.

Momentos antes, o presidente da CNIS considerou ser fundamental uma palavra pública de reconhecimento aos dirigentes. “Quero pedir à Assembleia da República uma palavra para serenar os ânimos, porque há muitos dirigentes com vontade de recuar. É necessária uma palavra de respeito e encorajamento para que não haja uma debandada geral, porque sem estas pessoas nas instituições a situação seria muito pior”, disse Lino Maia.