O Dia da Visitação nas Misericórdias, também conhecido como Dia Nacional das Misericórdias, celebrado a 31 de maio, que coincide com a festa litúrgica da Visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel, reuniu em Santa Maria da Feira a maioria das Misericórdias do distrito de Aveiro.

O ponto alto da iniciativa teve lugar na Igreja da Misericórdia com a celebração da eucaristia solene, que contou com a presença dos bispos do Porto, D. Manuel Linda, e de Aveiro, D. António Moiteiro, numa manifestação de união e fé que reforçou o compromisso das Misericórdias com os valores do serviço à comunidade.

O bispo do Porto, D. Manuel Linda, alertou para a necessidade de serem atribuídos mais apoios para estas instituições, considerando que a Segurança Social está a contratualizar e a exigir demais. “Está a ter atitudes que, às vezes, mais parecem do senhorio na relação com o empregado. Temos de criar uma nova cultura e temos, fundamentalmente, de exigir um pacto de regime. As forças políticas têm de se juntar e verem o que querem para a solidariedade social, porque corremos riscos. Corremos riscos de tudo", avisou.

Manuel Linda acenou com números que o deixam ainda mais preocupado. “Os centros sociais e paroquiais, as Misericórdias e as ordens fazem 70% da assistência concreta. E não há direito de nos exigir mais. Muitas destas instituições estão no limite das suas possibilidades", advertiu.

António Pina Marques, provedor da Santa Casa de Vale de Cambra e presidente do Secretariado Regional de Aveiro da UMP, destacou ao VM a importância de se sentir "esta unidade, este esforço de missão em que todos estamos envolvidos neste dia tão significativo para as Misericórdias, o dia da Visitação".

Lembrando o ano jubilar, com o tema ‘Peregrinos da Esperança’, Pina Marques destaca que "é muito importante assinalarmos esta efeméride porque é também uma forma de lembrarmos os ex-provedores do distrito, que ao longo de décadas, deram de si, da sua missão. Não podem ficar esquecidos”.

Sobre o facto do bispo Manuel Linda ter insistido na necessidade de serem dados mais apoios às Misericórdias, Pina Marques disse que "este é um trabalho muito sério e é preciso perceber o esforço desenvolvido porque a lei não nos permite dar mais respostas e isso é gritante. Eu diria escandaloso", lamentou. Para o responsável do Secretariado Regional de Aveiro da UMP, “estamos a falar de pequenas alterações na legislação para que possamos dar mais respostas em lar, em creche e em acolhimento residencial. Há aqui pequenos ajustamentos, nomeadamente também em projetos que, não tendo qualquer comparticipação do Estado ou da União Europeia, nós temos condições para desenvolver, se nos permitirem a administração direta”.

Para a provedora da Misericórdia da Feira, Conceição Alvim, “este dia serve para tornar mais conexas e mais colaborantes as Misericórdias para exercerem as suas funções, a sua atividade. Estamos numa altura em que os desafios são cada vez maiores, como ouvimos aqui o bispo dizer e a alertar para as necessidades das próprias instituições. Há muitas que conseguem equilibrar o seu funcionamento, mas outras estão com imensas dificuldades", alertou.

Conceição Alvim aproveitou para revelar ao VM que a Santa Casa da Feira tem pronto um projeto que visa a construção de uma creche com capacidade para cerca de 90 crianças. "É uma infraestrutura muito necessária nesta zona, mas estamos a falar de um enorme investimento e precisamos de nos organizar. Não estou a pedir dinheiro, apenas que nos apoiem nesta causa”.

Neste encontro marcado por solidariedade, cuidado e comunhão, foi prestada homenagem aos ex-provedores e ao trabalho incansável que desenvolveram na promoção da dignidade humana e da justiça social, reconhecendo o seu papel histórico e atual na resposta às necessidades das populações mais vulneráveis.

Voz das Misericórdias, Paulo Sérgio Gonçalves