‘Piquete Solidário’ da Santa Casa da Misericórdia de Almeirim é um projeto que pretende ajudar as famílias mais frágeis do concelho.

O sorriso no rosto de Maria Albertina Santos não engana. A curva é sinal de uma vida que se endireita. Há cerca de um mês, viu um dos seus desejos mais profundos ser concretizado através de um projeto da Santa Casa da Misericórdia de Almeirim.

O ‘Piquete Solidário’ entrou-lhe pela porta dentro e abriram-se, de par em par, uma série de janelas de oportunidade que lhe transformaram a vida. “Senti como se me tivesse saído o Euromilhões”, confessa-nos Maria Albertina que vivia, há anos, numa casa a precisar de obras urgentes.

A pequena habitação, situada numa localidade periférica da cidade de Almeirim, que herdou dos pais, e onde foi criada, sofria de múltiplos problemas: infiltrações, humidade e casa de banho construída fora da habitação eram os principais.
Com parcos recursos, saúde frágil e três filhos a cargo, a urgência foi-se prolongando e as obras transformaram-se num projeto sempre adiado, até que, incentivada por um familiar, ganhou coragem, pegou no telefone e contactou a Misericórdia de Almeirim.

“Foi a minha prima, a Ana, que viu no jornal 'O Almeirinense' este projeto que anunciava a possibilidade de realização de pequenas obras nas casas de quem mais precisa”, explicou ao Voz das Misericórdias.

“Foi insistindo comigo. Dizia-me: ‘tens aqui uma oportunidade para agarrar’. Hesitei muito. Só ao fim de uma semana é que eu ganhei coragem para ligar. Pensei sempre que não me dariam o apoio. Tinha receio”, confessou.

Mas as reticências foram-se transformando em terreno firme quando os técnicos da Misericórdia de Almeirim lhe fizeram uma visita para avaliarem a situação.
A equipa começou de imediato a trabalhar no caso. Desenvolveu contactos, arranjaram-se mecenas e materiais e nesta boa vontade foram lançados os alicerces para uma obra que Maria Albertina Santos julgava fora do seu alcance.
Em duas semanas, o ‘Piquete Solidário’ remodelou a casa de banho, ligando-a à habitação, isolou o telhado, criou uma nova divisão, pintou, substituiu o pavimento, portas e lancis e devolveu a esperança a Maria Albertina.

“Agora sinto que tenho mais força e confiança em mim. Sei que, se tentar, vou mais longe”, afirmou à nossa reportagem, confessando que agora já faz planos para o quarto dos filhos e para a nova marquise onde quer criar uma pequena sala que a casa não tinha.

Foi em Março de 2015 que nasceu o ‘Piquete Solidário’, um projeto que pretende ajudar as famílias mais frágeis do concelho de Almeirim “com a realização de pequenos trabalhos capazes de conferir mais dignidade e melhor qualidade de vida. Tarefas como o arranjo de uma torneira, a substituição de um candeeiro ou a reparação de um móvel que poderão significar pouco para alguns, mas muito para a vida de outros”.

É desta forma que se apresenta este projeto que, segundo, Miguel Carvalho, responsável pela área da comunicação externa da Misericórdia de Almeirim, estava “adormecido” e que está agora a ganhar um novo impulso devido ao efeito desmultiplicador das redes sociais.

“Optámos, de há uns meses para cá, por investir mais na comunicação e reforçar a nossa presença na internet”, explica o responsável, dizendo que assumiu a função de “dar força e visibilidade aos projetos da Misericórdia e colocá-los na rua”. 
Essa visibilidade tem atraído os apoios necessários. “Quando isto é amplificado nas redes sociais, os contactos surgem com naturalidade”, atesta. 

Para além de sinalizar famílias com dificuldades económicas que precisem de arranjos em casa, “pequenas intervenções, mas de um grande significado”, o projeto tem um outro alcance: “integramos, na equipa do ‘Piquete Solidário’ pessoas que estavam em situação de RSI, algumas delas até com passado de adição e damos-lhes a oportunidade de trabalharem connosco. São pessoas válidas que encontram aqui a possibilidade de terem uma profissão e de se voltarem a integrar na sociedade”.

Para além disso, conforme sublinha Miguel Carvalho, há também a vertente do estímulo da responsabilidade social das empresas da região que têm respondido “com muita facilidade” às solicitações da Misericórdia. “Tem sido um processo fácil. As pessoas são extremamente solidárias. Só precisam de uma espécie de plataforma que faça com que a necessidade se encontre com a vontade de ajudar”, afirma.

Para o próximo mês, os oito elementos deste ‘Piquete Solidário’ vão voltar a entrar em ação, na zona de Benfica do Ribatejo, devolvendo a esperança e os sorrisos a mais uma família.

Voz das Misericórdias, Filipe Mendes