Trinta e cinco anos depois da sua criação, o VM continua apostado, conforme se lê na primeira edição, a dar ‘mais atenção ao que é positivo, ao que pode animar e entusiasmar’.

O jornal Voz das Misericórdias está a completar 35 anos de existência e para assinalar a efeméride abre as portas da redação, em Lisboa, para mostrar os bastidores das notícias, num tempo marcado pelo imediatismo da informação, diversificação de fontes e multiplicação de plataformas digitais. Dos recortes de imprensa, recolhidos em órgãos de comunicação locais, nos primeiros anos, à implementação de uma rede de jornalistas com cobertura nacional, a partir de 2009, distam mais de três décadas, sete grafismos e cinco diretores.

O primeiro número do VM é de janeiro de 1985 e custa 30 escudos. Cabeçalho vermelho, 16 páginas impressas a preto, amareladas pelo tempo, com um propósito bem definido: “ser uma tribuna aonde tenham acesso e donde se possam fazer ouvir todos os que possuam algo de bom para partilhar com os seus semelhantes”, ser dinamizador da solidariedade social e uma “nota discreta, mas viva e enérgica” no panorama da comunicação social em Portugal.

Hoje, a missão de divulgar a identidade e atividade das Misericórdias, num espírito de diálogo e partilha de boas experiências, continua atual, mas é concretizada num registo mais informal e próximo das pessoas que dão vida às instituições, através de reportagens e rúbricas que dão voz a rostos menos visíveis nas estruturas institucionais (técnicos, voluntários, benfeitores).

Tudo começa nas reuniões editoriais, em que se definem os temas e se reúnem os acontecimentos na agenda das Misericórdias, a partir de notas informativas ou convites, assim como notícias recolhidas no clipping diário (serviço de recolha de notícias publicadas em meios nacionais, regionais ou locais). Fruto da aposta das Misericórdias na comunicação digital, a equipa do VM recorre ainda a pesquisas nos sites e páginas de facebook das instituições. A rede de jornalistas, criada em 2009, constitui uma terceira fonte de informação dada a proximidade geográfica e facilidade de contacto no terreno.

Definidos os temas num plano editorial, que poderá ter 28, 32, 36 ou 40 páginas, a editora distribui tarefas pela equipa na sede, em Lisboa, e pelos jornalistas da rede (um por distrito, 18 no total), com indicação do número de caracteres (entre 2000 e 7400) e ângulo de abordagem. Não dispondo ainda de orçamento para contratação de fotógrafos, o VM pede aos jornalistas que assegurem, na maior parte dos casos, o registo fotográfico dos temas que tratam. Por vezes, a redação também recorre a bancos de imagens ou à colaboração pontual de entidades ou órgãos de comunicação locais, que habitualmente cedem imagens para publicação no VM.

Em 2015, para assinalar os 30 anos do VM, o designer responsável pela paginação do jornal foi desafiado a criar um novo desenho, com menores manchas de texto e maior destaque para as imagens, para suavizar a leitura. O redesenho que foi alvo de distinção num concurso de design ibérico (medalha de prata, Prémios ÑH12) traduziu-se em maior responsabilidade para a equipa, sobretudo ao nível da imagem, desencadeando uma aposta em formações de fotografia, contratação de ilustradores e publicação de infografias.

Poucos anos depois, em 2019, o jornal publicou, pela primeira vez, ilustrações inéditas, mediante encomenda a artistas nacionais (Sara da Mata e Paulo Buchinho), em trabalhos alargados sobre igualdade de género (março) e controlo de infeção (outubro).

De forma integrada, o Gabinete de Comunicação e Imagem propaga os conteúdos produzidos em diferentes formatos (texto, imagem e vídeo) e plataformas de comunicação da UMP (site, facebook, jornal), sem recurso a anúncios pagos, no site ou página de facebook, procurando alcançar maior envolvimento do público (colaboradores, irmãos, familiares e amigos etc.).

Esta estratégia de produção regular de conteúdos e diálogo permanente com os diferentes públicos tem resultado no aumento gradual de partilhas, comentários e interações dos seguidores da página de facebook e coloca o separador de notícias, galerias de fotografias e PDF do jornal nas 20 páginas mais visitadas do site da UMP.

Muitos leitores imaginaram o ritmo frenético de uma sala com telefones a tocar e vozes que se atropelam quando pensam numa redação de jornal, mas nem sempre é assim. Há dias em que é possível planear a agenda do mês sem sobressaltos e fazer pesquisas de novos temas, em publicações disponíveis na biblioteca da UMP e artigos de investigação disponíveis na internet.

À semelhança de outros órgãos de comunicação nacionais, o VM assegura cobertura de alguns temas à distância, através de contactos telefónicos com técnicos e dirigentes. Mas para esta jornalista que vos escreve as saídas em reportagem são o ponto alto do mês, permitindo ir ao encontro das pessoas que asseguram a intervenção e beneficiam da ação direta das Misericórdias.

De regresso à redação, depois da observação direta e recolha de testemunhos, faz-se o relato dos factos, com o rigor e a exigência que regem a ética profissional, mas sempre com atenção às instituições com coração (misere + cordis, em latim) que são as Misericórdias.

Quando concluídos, os textos seguem para revisão pela editora do VM que, em estreita articulação com o designer editorial, assegura o cumprimento dos prazos de fecho e envio da publicação para a gráfica.

Será este o percurso deste texto que está prestes a chegar ao fim, em pleno Dia Mundial das Comunicações Sociais (24 de janeiro). A propósito desta efeméride, o Papa Francisco dedica a sua mensagem ao tema da narração, que também aqui na redação nos inspira todos os dias. “Precisamos de respirar a verdade das histórias boas: histórias que edifiquem, e não as que destruam; histórias que ajudem a reencontrar as raízes e a força para prosseguirmos juntos. Na confusão das vozes e mensagens que nos rodeiam, temos necessidade duma narração humana, que nos fale de nós mesmos e da beleza que nos habita; uma narração que saiba olhar o mundo e os acontecimentos com ternura, conte a nossa participação num tecido vivo, revele o entrançado dos fios pelos quais estamos ligados uns aos outros.”

Trinta e cinco anos depois da sua criação, o VM continua apostado, conforme se lê na primeira edição, a dar “mais atenção ao que é positivo, ao que pode animar e entusiasmar”. Boas leituras!

49%

Desde 2014, na sequência do alargamento da equipa do Gabinete de Comunicação e Imagem, tem sido possível fazer o levantamento das Misericórdias representadas no jornal, com o objetivo de aumentar a cobertura a nível nacional. Esse esforço permitiu aumentar o número de Misericórdias noticiadas no VM em cerca de 49% (de 142 em 2014 para 212 em 2019). O esforço refletiu-se ainda no aumento do número de páginas que a partir de 2015 passa a oscilar entre as 32 e 40 por edição.

Registar histórias e guardar as memórias

O VM tem sido testemunha de momentos cruciais na história das Misericórdias do século XX, como os diferendos com a hierarquia da Igreja Católica, a propósito da natureza das Misericórdias, a assinatura do Pacto de Cooperação para a Solidariedade Social (1996) e a criação da Rede Nacional de Cuidados Continuados. Não é por acaso que o VM é citado em vários volumes da coleção Portugaliae Monumenta Misericordiarum.

De recortes de jornais à rede de jornalistas

Durante ?muitos anos (pelo menos até 2003/2004) a produção do jornal foi assegurada a partir de notas e fotografias enviadas pelo correio e notícias recolhidas em jornais locais por uma agência de recortes. O envio de repórteres às Misericórdias estava condicionado pelo orçamento do jornal, sendo nalguns casos suportado por publicidade local. Em 2009, o cenário muda radicalmente com a criação da rede de jornalistas.

Leia também a opinião de Manuel de Lemos, Silva Peneda, António Tavares e Francsico de Araújo sobre o VM. 

Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas